sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Milan-ITA_1961/62 - Tesoura e cola; como nos meus tempos de garoto!

Como diz a canção, "sem querer fui me lembrar..." Pois é, aconteceu que sem querer fui me lembrar dos meus times de botão de antigamente; que viviam em todos os cantos e gavetas dos meus tempos de garoto!... Eram assim; exatamente como esse que vocês estão vendo neste post. E a história é mais ou menos essa: Muitas figurinhas de futebol, a sempre afiada tesoura da vovó (pois naquela época criança não mexia com tesoura, muito menos em dias de chuva, porque - diziam os mais velhos -, atrai relâmpagos), aquela cola com o índio no rótulo (a velha e melequenta goma arábica), um pedaço de papel de seda (ou de presente, mais raro), um calendário de parede (geralmente furtado do barbeiro ou do açougue do bairro, sob as vistas grossas dos respectivos donos) e uma boa dose de paciência. Paciência, aliás, não faltava, e era fundamental para o recorte e para o desenho dos emblemas dos clubes, os distintivos, pois era difícil encontrar onze escudos iguais e no mesmo tamanho. Quando vinham nas figurinhas - que beleza! -, ajudava muito. Caso contrário, sem problemas, eramos peritos em desenhar os escudos dos times mais conhecidos. Quase sempre os mais velhos até estranhavam o silêncio na casa. - Menino, onde você está? O que está fazendo?... Não vai aprontar alguma, heim!... Que aprontar, que nada! Naquelas horas mágicas podia cair o mundo que nada nem ninguém podia nos tirar a concentração. Eram momentos solenes, de respiração lenta e compassada, para não desviar a sinuosidade da tesoura que lentamente acompanhava o contorno do rosto daqueles inesquecíveis ídolos do futebol. Eles, os craques, eram todos íntimos de nossa curiosidade juvenil, conhecidos em detalhes. E assim as horas passavam rapidamente sem que percebessemos. "Agora só falta recortar mais 7 jogadores... mais 6..., mais 5... Pronto, acabei!..." Acabava-se a primeira fase, mas ainda faltavam os nomes dos jogadores, que eram recortados das próprias figurinhas, e os números, recortados do calendário de parede. Pois é, naquele tempo não havia computador e máquina de escrever era um luxo, só disponível nos escritórios profissionais. Em casa, nem pensar! Uma hora mais e quase tudo estava em ordem para a montagem, escudos, jogadores, nomes e números. Agora, o toque final: desenhar os círculos no papel de seda, onde seriam coladas as imagens recortadas. Essa tarefa era simples, geralmente feita com com o auxílio de uma tampinha plástica do próprio botão que servia como guia. Em seguida, finalmente, o momento mais aguardado, a hora de colar tudo no seu devido lugar, jogador por jogador. Assim nascia a equipe tão desejada. Naquela época não se falava em compor o "lay-out". A gente nem sabia se isso era de comer ou não... Eramos crianças, jovens que procuravam algo útil para se fazer, nem que a utilidade fosse mero deleite. Não contávamos com a ajuda de ninguém, mas sabíamos exatamente "o quê" e "como" fazer. Quanta saudade e que satisfação ver o time pronto! Esse time que aí está foi feito no computador, mas sem o uso de qualquer artifício tecnológico, ou seja,  nenhum efeito! Uma cor de fundo chapada, como antigamente se fazia com o papel de seda ou de presente; o recorte tosco das imagens em seu tamanho regular; exatamente como estão na figurinha, sem qualquer tratamento ou retoque, daí porque a dificuldade para fazer caber o "cabeção" do atleta e os demais elementos dentro do pequeno espaço a eles reservado... Como disse, todos os elementos da figura também foram recortados das próprias figurinhas, exceto os números, que vieram dos calendários. Só não se aplicou a temível e melequenta goma arábica para as colagens (ainda bem, porque sempre me complicava um pouco nessa fase!). O resultado é esse que aí está, puro, simples, sem efeitos! É exatamente o mesmo resultado que apresentavam os meus times de criança. Esse resgate é um registro de uma excelente lembrança e um tributo, uma homenagem que presto ao puro e simples jogo de botão! Vida longa à simplicidade e aos bons e saudáveis hábitos!

8 comentários:

Armando disse...

Amigo Vitor,
Tomei a liberdade de postar esta crônica espetacular no meu blog (www.sportdebotao.blogspot.com).
Espero que você não se incomode, pois eu não poderia deixar de dar conhecimento aos meus leitores de tão maravilhosa prova de amor pelo Futebol de Mesa.
Parabéns!

Vitor Sanches disse...

Prezado Armando,
Você é sempre bemvindo e fique à vontade para reproduzir qualquer destes posts em seu blog. Obrigado pelo carinho! Vitor

Botões para Sempre disse...

Olá, Vitor, tudo bom? Acompanho seu blog e fico encantado de ver esses botões em rostos de jogadores, que, de certa forma, foram a minha primeira coleção no botonismo, a série da Gulliver - Grandes times do campeonato brasileiro, de 1977. Sou amigo do Alessandro, do Tribuna do Botão, e ele me passou seu blog. Caro, Vitor, acredito que você tenha muita informação sobre várias coleções que marcaram a história do Futebol de Mesa. Criei um blog em novembro (http://botoesparasempre.blogspot.com). Como jornalista e apaixonado pelo futebol de mesa, estou colocando muita informação e curiosidades sobre as coleções Onze de Ouro, Craques da Pelota, e os antigos fabricantes que fizeram história como Jofer, Brianezi, Bolagol, fotografando minha extensa coleção, enfim, aproveito aqui para você conhecer meu blog e ficar à vontade se quiser comentar sobre as antigas coleções, que, de certa forma, você deve saber mais do que eu, pois nasci em 1974 e não vivenciei de perto o que foi uma Coleção Craques da Pelota, ou Onze de Ouro, por exemplo. Seu texto ficou formidável e adorei ler, pois lembro um pouco das saudades da infância.
Parabéns pelo seu trabalho, nota dez, digno de elogios.
Abração
Ricardo Bucci
"Botões para Sempre"

Vitor Sanches disse...

Oi Ricardo, boa tarde!
Fico grato por te-lo como seguidor neste blog. Também já visitei o seu e vez por outra dou uma passadinha por lá. Na verdade passeio em meio a quase todos os blogs que tratam do nosso pequeno grande universo do jogo de botão, sempre aprendendo de tudo um pouco. O Alessandro é um grande incentivador do meu trabalho e um companheiro já de algum tempo. Ultimamente, como você já deve ter percebido, também está se revelando um excelente criador de times de botão. É isso aí, todos juntos, corações e mentes irmanadas em prol dos mesmos objetivos. Seja sempre bemvindo. Vitor

Botões para Sempre disse...

Eu que agradeço, Vitor. Me diga uma coisa sobre as coleções. A Coleção Craques da Pelota era feita antigamente pelo fabricante Jofer? Ela era vendida na forma de pacotinhos, nas bancas, não é Vitor. O fabricante da Onze de Ouro se você souber, qual era, pois esta coleção surgiu um pouco antes da Craques da Pelota, não é mesmo? ambas são maravilhosas, e ambas eu não conheci, pelo fato de ter nascido em 1974.
abração
Ricardo

Vitor Sanches disse...

Prezado Ricardo,
A fim de não cometer nenhuma impropriedade quanto ao que me pede, prefiro respeitosamente declinar do encargo, passando a bola ao Jorge Farah, a quem reconheço como a maior autoridade no assunto. Ele não apenas poderá esclarecer eventuais dúvidas como também aduzirá valiosas informações a respeito. Por experiência própria, o que posso lhe dizer é que tanto a coleção "Onze de Ouro" quanto a "Craques da Pelota" eram vendidas em pacotinhos, nas bancas de jornais, nos idos de 1964/65 talvez até mesmo um pouco mais para a frente, não me recordo precisamente, da mesma forma como hoje em dia são vendidas as figurinhas na época das Copas do Mundo. E a "febre" dos colecionadores era proporcionalmente igual à que se vê hoje em dia, pode ter certeza! Um abraço, Vitor

zamorim disse...

Caro amigo Vitor, sensacional!
O time e a crônica.

Tenho certeza que todos nós, que acompanhamos seu trabalho, ganharíamos muitos se você escrevesse mais sobre suas experiências como amante do futebol de campo e do de botão ;-)

Vitor Sanches disse...

Ave, Marcus, saudações botonistas!
Primeiramente, agradeço a gentileza e, se me permite, faço minhas as suas palavras, pois a recíproca é verdadeira. Não é de hoje que admiro seu trabalho, a sua dedicação e o seu desprendimento. Visito seu blog frequentemente e sempre temos o que aprender com sua dedicação e entusiasmo. Sobrando um tempinho postarei alguma outra crônica sim. Há uma engraçada, por sinal, a respeito das escalações dos meus times de "desconhecidos", cujas imagens, do tipo "procurados", eram tiradas dos gibis (HQs) de faroeste. Um abração, Marcus, muita saúde e paz!
Vitor